–Placas de trânsito muiiito “baleadas”
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9/8/2010 – 18:22h. – Preveli
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6/8/2010 – 18:14h. – Georgioupoli
–Este foi, até agora, o dia mais cansativo desde que estamos na ilha. Visitámos a capital, Eráclio. Saímos de autocarro às seis da manhã e acabámos de chegar. Pensávamos que a viagem seria de três horas mas o autocarro das seis da manhã não faz paragens o que nos colocou em Eráclio às sete e meia.
–A cidade decepcionou-me na medida em que, por ser a capital, é a mais descaracterizada. A única diferença entre estar ali e numa cidade portuguesa são os caracteres. Ainda assim, realço três aspectos: o porto veneziano, assim chamado porque rodeado a toda a volta por uma muralha veneziana, o museu de Cnossos onde finalmente pude ver ao vivo algumas das coisas que acompanharam a minha vida universitária há mais de vinte anos e, sobretudo, o mercado. Bem, há uma quarta que merece referência. A zona antiga e central da cidade tem alguns edifícios venezianos de uma beleza extraordinária.
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O mercado de Eráclio não é num edifício fechado. Estende-se ao longo de uma rua inteira com bancadas de carne, peixe, frutas, legumes, queijos, cafés e produtos tradicionais. A rua fica praticamente coberta porque os toldos de um lado e de outro chegam praticamente ao meio.
–Uma das paisagens mais interessantes da ilha vimo-la hoje. A uns cinco quilómetros da cidade, a meio de uma serra, vê-se toda a extensa baía de Eráclio e o casario que desce da montanha, pela costa, até ao mar.
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Pormenor cretense nº 1: Na ilha, só em Eráclio encontrámos um restaurante MacDonalds. Não usámos. Aqui não vale a pena porque é dos restaurantes mais caros que se encontra!
–Pormenor cretense nº 2: Tomámos um café gelado e um capuccino no Starbucks. Preferimos casas tradicionais, não formatadas, mas era tão cedo que o Starbucks era praticamente a única casa aberta. Por todo o mundo, o Starbucks tem uma pequena caixa junto à caixa de pagamento de onde as pessoas podem tirar livremente moedas se lhes faltar uns trocos para completar o pagamento. Do mesmo modo, quando recebem trocos podem deixar algumas moedas de menor valor. É um sistema de entreajuda. Não é uma gorjeta. Os ingleses chamam-lhe “take a penny, leave a penny” que pode traduzir-se por “sirva-se de uns trocos, deixe uns trocos”. Ora, os gregos de Eráclio não estiveram com meias medidas e converteram aquilo numa caixa de gorjetas e o que lá estava escrito era “leave a tip”, “deixe uma gorjeta!” Como diria o ribatejano: “Mai nada!”
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Pormenor cretense nº 3: Hoje tentei comprar em Eráclio uns cds para a máquina. Eu tenho uma dois em um. É uma máquina de filmar que grava em cd e, simultaneamente, uma máquina fotográfica que grava as fotos em cartão. Como não gosto de filmar, nunca trago cds, só cartões. Ora, o pessoal começou a dizer para eu comprar uns cds e filmar. Encontrei uma casa com um letreiro luminoso por cima da porta que tinha o símbolo da AGFA e dizia “Material Fotográfico”, também tinha um cartaz de colocar no chão com publicidade a produtos fotográficos. Quando lá entrei era… um supermercado que vendia tudo menos produtos fotográficos. A velhinha que lá estava explicou-me que compraram a loja assim, mudaram o negócio mas nunca tiraram os letreiros. E todos os dias põem o cartaz na rua!
–Nota gastronómica atrasada: A comida destes tipos é tão boa quanto eu estou a engordar a olhos vistos! Ontem, já depois de ter escrito o resumo da visita a Rethimno, fomos jantar aqui em Georgioupoli a um local onde já nos vão conhecendo. A comida é muito boa, caseira, e as pessoas são muito simpáticas. É o Nostos. Como já experimentámos a gastronomia mais conhecida em diversas versões, o “tzatziki”, o “giros”, a “moussaka”, o “souvlaki”, a “loukanika xoriatika” (salsichas picantes com ervas aromáticas), o “guémistá”, a salada grega e a cretense, resolvemos aventurar-nos por pratos menos conhecidos dos turistas. E vai daí comemos “soutzoukakia”, carne picada feita em bolas em forma de ovo que é temperada com ervas aromáticas e refogada com pimentos, tomate e muita cebola. Come-se com batata frita e tzatziki. E comemos também “imam baildi” que são beringelas recheadas com couve, cenoura, tomate, pimento, malaguetas, muita cebola e queijo fetá. Primeiro é refogado e depois vai ao forno. Come-se com quê? Pois claro, batata frita e tzatziki.
–Nota linguística humorada nº 1: como eu e a Paula somos formados em clássicas e estudámos grego antigo e literatura grega e como ainda leccionámos grego, servimo-nos de algumas semelhanças para facilitar a comunicação. Em primeiro lugar, não estranhamos o alfabeto o que é óptimo, em segundo lugar conhecemos muitas palavras e outras tiramos pelo sentido. Ora, tudo isto é muito lindo para ler instruções, menús, placas com nomes de localidades e outras coisas menores mas para a comunicação oral serve muito pouco porque as diferenças entre o grego antigo e o moderno são enormes. Por uma questão de respeito e também para nos integrarmos melhor, tentamos sempre falar grego.
–Ora, ontem ao jantar pedimos, entre outras coisas, no melhor grego que conseguimos arranjar, uma “Coca-Cola grande”. Ficámos um bocadinho admirados quando a moça que nos estava a atender fez uma cara de grande espanto. E foi tal o espanto que resolveu deixar-se de brincadeiras em grego com os turistas armados em espertos e partiu para o inglês. A conversa que agora traduzo passou-se, portanto, em inglês.
– Tem a certeza de que quer isso?
– Sim, tenho.
– E o que é que quer mesmo?
– Quero uma Coca-Cola grande.
– Bem me parecia que alguma coisa estava errada!
– Como assim?
– Sabe o que acabou de pedir-me?
– Uma Coca-Cola grande!
– Não! Uma Coca-Cola com leite!
Depois da gargalhada geral, tirámos a confusão a limpo escrevendo na toalha de mesa. Aqui fica a confusão:
Nós dissemos “mia Coca-Cola mê gala, parakaló”
Devíamos ter dito “mia Coca-Cola mégala, parakaló”
–Nota linguística humorada nº 2: um dia destes, estivemos a jantar num local onde gostamos de ir porque fazem um excelente “giros”. O Milos. Acontece que a moça que nos costuma atender, muito simpática, é búlgara, vive há dez anos em Creta para onde veio trabalhar mas não diz uma palavra em inglês. Ou melhor, diz três: “hello” e “thank you”. Nós, como já foi dito, lemos e percebemos algum grego mas falamos muito pouco. Quando lá vamos, abrimos a ementa e apontamos. Isso costuma resolver a coisa. Desta vez, contudo, precisávamos de dar uma ordem aos pratos. Este primeiro, aqueles depois. Foi exasperante e, ao mesmo tempo, cómico porque nem ela percebia o nosso inglês, nem nós o grego dela. Acontece que sempre que tentávamos dizer qual era o prato que queríamos primeiro, ela riscava-o da encomenda e perguntava com um gesto interrogativo qualquer coisa que devia ser “Então em vez deste vai ser qual?”
–Então, tínhamos de repetir todo o pedido que ela voltava a escrever e quando tentávamos mudar outra vez a ordem aos pratos, ela riscava o primeiro e voltava a perguntar “Então e em vez deste?”
–Parecia uma roda de malucos até que, no meio de explicações e contra-explicações, ouvimo-la dizer a palavra “proto”. E fez-se luz. A malta lembrou-se de proto-história e depois do significado de “proto” em grego: primeiro. Quando resolvemos isto, descobrimos que ainda faltava o resto do pedido! Vá de abrir ementas e apontar com o dedo que assim não falha.
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Nota que não tem nada a ver com nada: desde que estou em Georgioupoli (uma semana), escrevi quatro capítulos de “De Negro Vestida”. E eram importantes! Necessitavam tranquilidade e força mental. Acho que encontrei ambas aqui!
31/7/2010 – 20:04h. – Georgioupoli–Estamos na praia, Sim, eu trago o caderninho para todo o lado. Até para a praia. Não tinha a intenção de escrever, mas experimentei agora um fenómeno que me obriga a uma nota. Acabei de sair do mar. Georgioupoli tem uma capelinha branca de formas arredondadas construída a uns trezentos metros da costa. À sua direita ficam as praias orientais, de água morna. À sua esquerda fica a praia ocidental. É nesta que estou.
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A praia é grande e tem a particularidade de ter em cada extremidade um rio. Os dois desaguam aqui. A fauna é extraordinária e a pesca um modo de vida. Há pouco estivemos a conversar com um pelicano que estava na margem de um dos rios que é também a beira da estrada que dá para a praia. Até deixou fazer festinhas. Fingiu que reclamou mas não se mexeu de onde estava.
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Vamos à curiosidade desta praia. A água do mar é quente por baixo, de um quente chuveiro, ou seja, mesmo muito quente, e fria, mesmo muito fria, por cima! Por outro lado, em baixo é muito salgada, até faz arder os olhos e por cima é doce, bebe-se como se fosse água de garrafa.
–A mulher e o filho, que são os inteligentes da família, lá foram explicando cientificamente o fenómeno. Não me interessam muito as razões. Sei que é extraordinário boiar e ficar gelado, mergulhar e ficar completamente aquecido. É possível mergulhar e, a meio do caminho entre o topo frio e o fundo quente, parar, abrir os braços e as pernas e ficar a “planar” como os tipos que saltam dos aviões antes de abrirem os pára-quedas. Não se vai para baixo porque a água salgada e quente empurra para cima e não se vai para cima porque a água fria e doce empurra para baixo.
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Ainda agora cheguei e a Natureza de Creta já me fez uma surpresa.
Blog da Hacker da Singularidade, Pirata Espacial e Autora Gisele Portes
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"...cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio..." (R. Nassar)
"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."
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